04.12.2018
Chalé Montenegro
Prezadíssimo Comendador “João Elisário de Carvalho Monte-Negro”
Permita-me ludibriar o tempo, a morte e a vida, e lhe enviar essa singela carta escrita depois de 103 anos de sua passagem por esse mundo de Deus.
Remeto-lhe essa lúdica missiva por vários motivos.
O menos importante deles: pela primeira vez escrevo para um comendador. E já peço escusas pela proposital informalidade.
Infelizmente, na minha geração, raros são os que sabem usar os tratamentos respeitosos e os costumes de hoje... Melhor prosseguir em meu intento principal.
Quis o destino que eu tivesse a honra de ocupar a sua casa construída em 1894, o Chalé Montenegro, na nossa tão querida Espírito Santo do Pinhal, prestes a comemorar 169 anos no próximo dia 27 de dezembro. Ainda não ficou como Lousã, nas cercanias de Coimbra, mas ainda te daria orgulho. Gloriosa terra!
A sua casa está belíssima, mercê de uma dedicação admirável de outro nobre, hoje amigo, jovem aos 93 anos, Sylvio Occhialini Filho. Restarou com esmero cada detalhe e a beleza reluz, destacando-se entre as mais belas obras da história da cidade e, sem exagero, do Brasil!
Fiz tremular novamente o pavilhão nacional na sacada de cima, donde se avista ainda toda a cidade. E me considero não o proprietário, mas um zelador. Virou patrimônio da cidade! Quero apenas refazer a sua originalidade e presentear a população com os seus ideais sempre vívidos.
Hoje ainda te chamam por aqui de “visionário”. Desculpe-me a notícia, mas é que atualmente o Brasil passa por um momento em que a ética quase foi relegada a uma palavra sem significado.
Uso o Chalé como uma banca de advocacia e sinto nele impregnado, com grande prazer, toda a sua história de altruísmo, benemerência e generosidade. Faz bem para alma!
A cidade ainda prospera com o café, fruto de sua iniciativapioneira e audaciosa em ajudar a instalar a estação ferroviária nas terras de Romualdo de Souza Brito.
Mas agora também temos uva, acredite da melhor qualidade. E o vinho faz fama também no Brasil e no exterior. O turismo parece que trará um desenvolvimento menos oligárquico, com todo o respeito de alguma crítica que tenho a petulância de manifestar.
A cidade continua linda e o povo maravilhoso, com pequenos arroubos pueris de não dar valor às belezas sobejantes da Mantiqueira, mas continua cultuando seu lema: “São fiéis às suas origens” (Originibus Fideles Sunt).
Deixo para uma outra carta notícias sobre “Nova Lousã”, pois confesso hercúlea dificuldade em lhe explicar o que é um autódromo moderno. Melhor silenciar sobre isso e também sobre a Estação que prometem restaurar, mas não tem mais trem e deram outra conotação ao significado para “final de linha” da baixa mogiana.
Por fim, saiba que a Santa Casa de Misericórdia, cujocargo de tesoureiro e procurador geral Vossa Senhoria assumiu depois da partida de Francisco Antônio Rosas passou por dificuldades, mas está cada vez melhor, fruto de abnegados que se dedicam à exaustão ao bem do povo. Em breve teremos até uma Unidade de Terapia Intensiva em pleno funcionamento.
Queria esse mofino causídico continuar a escrever muitas e muitas laudas, mas me reservaram apenas uma. E foi isso que fiz. Homenagear Espírito Santo do Pinhal, enganando o tempo e a morte, e enviando notícias atuais para um dos pinhalenses mais ilustres e que contribuiupara que no dia 27 de dezembro tenhamos mais motivos para comemorar do que lamentar.
Viva Espírito Santo do Pinhal! Viva os Pinhalenses! Viva todos os ilustres cidadãos dessa terra abençoada pelo Divino Espírito Santo, Nossa Senhora das Dores e Santa Luzia.
Abusando do nobre comendador, continue intercedendo por nós. Precisamos urgentemente de visionários como Vossa Mercê, para que a ética volte a ser regra comezinha e não apenas uma palavra rareada de conhecimento prático. Queremos alegria, paz e sustentabilidade.
Obrigado por tudo, em nome de todos os Pinhalenses.
Luciano Pasoti Monfardini.